DIVAGAÇÕES NO VINHO
(Ao poeta Rubem Borges Fialho)
Acontece que não há silêncio
e nem escuridão suficiente
para meu apelo.
Meu âmago civilizado
enquanto ri, chora;
e o pensamento desatina
entre lucidez e desespero
enquanto o copo de vinho seca
novamente na minha frente.
Mais vinho. Eu preciso!
Preciso tanto como os homens
que me cercam e são assimiláveis,
preciso tanto como os
homens
que necessitam de coisas maravilhosas
e fúteis e corrosivas,
precisamos todos nós
(sem talismã ou com talismã)
de vinho.
Isso! Precisamos de vinho!
O caos que absorve nossa ótica
Não pode passar de um absurdo
Refletido na nossa realidade.
Os elos que tento manter
com a minha perseverança vital
aos poucos ficam estáticos.
Poesia!
Pensei que ela fosse chegar mais tarde.
Poesia e vinho.
Pensamentos flutuantes
na noite gigante.
Tento desligar a TV
tento catar o silêncio que me persegue
mas não me domina, o silêncio adorado,
e quando revejo fotos concluo:
a imortalidade está
em nossos exclusivos segredos!
Besta! eu diria.
Basta! alguém gritaria.
E enquanto o nada me devora
a paz
eu grito um grito mudo e ensurdecedor
apoteótico e sarcástico.
E enquanto o barulho do planeta
sufoca meus ouvidos e alma
eu gemo solitário
na beira do copo de vinho.
Ai ai ai ai ai ai ai ai ai ai ai ai
canta meu espírito divago
buscando a nudez total da vida.
Aiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiiii
canta minha ânsia partida.
Pobre do meu choro!
Nem mais sequer é aprisionado
como um bandido perigoso e orgulhoso.
É soluçante e saliente e sem nexo.
É simplesmente um choro, de homem.
Não!
Eu não quero que o vinho acabe
sem antes alterar sensações pelo qual
meu corpo anseia.
Não! Seria hipocrisia
de fim de dia tortuoso.
E bebo este vinho gostoso.
O voo de cada um de nós
precisa alcançar algo?
O voo alucinado do meu ser
necessita da compreensão absoluta?
Os deuses que nos cercam
e nos protegem ou nos dilaceram
são dignos da nossa fé?
O vazio não será a resposta buscada
Em anos e anos de sobrevivência?
Meu auto-interrogatório
Não será a máscara da demência?
Ah o vinho!
O vinho que parece acabar.
O vinho feito com esmero
e que no desespero da alguns dias
nos embriaga a alma ancorada.
O vinho seco ou suave
ou branco ou tinto ou verde,
o vinho que seca nos copos
de nossos bares e
lares,
O vinho fresco
que nos arrebata em imagens e lembranças
e nos conduz a um sonho inocente
de novas esperanças...
E me adormece diante de enigmas
insurretos
insuperáveis.
POEMA DA DOR
A dor é o mais insuportável
sentimento humano.
Na dor física
todos se igualam
pobres e ricos
negros e brancos...
a dor física é cruel!
e não permite fingimentos.
A dor no braço, a dor no peito
a dor no ventre
a dor na boca, na cabeça
no ouvido, nas pernas...
Enfim toda a dor
insuportavelmente
castiga o homem..
Ah a dor da alma!...
Esta é controlável com ilusões
e nos faz até criar poemas e fábulas
e técnicas para fingirmos que não a sentimos.
Mas a dor física...
esta é real...
maltrata...
e mata.
NOITE FRIA DO PAMPA
Canta em mim uma alma
e eu pergunto
se há alma em mim
ou em alguém.
Canta algo
no vento que sopra
rente a meus ouvidos
e uivos me chegam
de longe
na noite fria do pampa
no brilho da lua gigante.
Ah, meu Deus Insuperável!
Meu Deus Indefinível!
Mostra-se pra mim
de qualquer forma,
Acorda minha fé
adormecida pelos séculos,
Transpõe a lógica
que me conduz
nestas noites frias
do pampa
que me pariu.
Faz frio!
O VELHO GRANDE DO SUL
O velho grande do sul
sangra de emoção
em seu galope silencioso
pelas coxilhas do pampa
-seu habitat natural e eterno-
enquanto o rosto rude
estampa a melancolia
dos homens solitários por natureza.
O velho grande do sul
sem muito sucesso na vida
vira sua página todos os dias
sendo protagonista
de sua história real
sem mística, sem mitos,
com ritos de um cotidiano
que se esvai ano a ano.
O velho grande do sul
resiste ao tempo
e serve de exemplo
para os jovens grandes do sul
que embriagam-se com a modernidade,
E calado
com olhos no horizonte
reflete a esperança
de novos dias melhores.
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