Martins acordou de um estado de coma de 20 anos. Sua primeira visão foi do teto branco, das roupas brancas, da sua magreza, dos canos e fios enfiados pelo seu corpo. Olhou para o lado e estava uma mulher jovem, bonita, com cabelos amarelos. Era sua filha; ele não sabia naquele momento em que retornava para a vida, para o estado consciente, 20 anos depois de um grave acidente de automóvel.
Os ossos quebrados e a pele cortada voltaram ao normal, mas o cérebro não. Ficou dormente por 20 anos. Martins encontraria um novo mundo ao seu redor. Novas pessoas, novas tecnologias, telefone celular, computador portátil, mas o ser humano ainda lutava contra violências, corrupções, desigualdades sociais e ganâncias.
No primeiro dia foi muita alegria. Familiares e amigos conversaram com Martins. Os médicos pediram calma e retomaram exames e novos tratamentos para ele voltar a caminhar e ter vida normal. O pior tinha passado. Aos poucos Martins recebia informações do mundo ao seu redor. Falou num celular com parentes distantes. Viu a filha manusear o notebook e ter o mundo e todas informações aos seus dedos através da internet. Surpreendeu-se ao saber que o ex-operário sindicalista que tinha sido preso pela ditadura militar agora era o Presidente do Brasil. Mais ainda quando soube que o povo norte-americano elegeu um presidente negro para dirigir os EUA. Muitas novidades chegavam e surpreendiam.
Martins sentiu a ausência dos pais. Tinham morrido. Martins chorou muito. 10 anos depois das mortes por câncer. Sentiu a falta da mulher carinhosa. Esta tinha ido embora e formou uma outra família. Sobrou a filha, com 29 anos, agora "doutora". Sobraram os irmãos... Martins pediu perdão pela sua ausência, pois seu acidente tinha sido uma imprudência.
Martins pediu para ver o mar.
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