Quando Igor chegou na cidade só se falava em enchente. O rio subiu 7 metros, já tem 600 pessoas desabrigadas, os barcos a motor dos voluntários navegavam nas ruas do subúrbio invadido pelas águas de novembro, recolhendo gente, roupas e móveis possíveis. A praia sumiu. Os bares da orla ficaram inundados. A população ficava atenta ao movimento do rio, se subia, se baixava, e os políticos carregavam povo em seus carros para os abrigos coletivos instalados nas escolas. Só se falava na enchente. Fotos da enchente. Filmagens da enchente com suas águas sobre as paredes e placas e postes desaparecidos. Nos bancos, na prefeitura, nos bares, nas barbearias, nas casas o assunto era o rio subindo. Crianças das vilas alagadas chorando a perda de seus brinquedos atirados nos pátios e que a água levou. Mulheres lamentavam as perdas de móveis e eletrodomésticos. Ativistas realizando campanhas de arrecadação de alimentos, colchões, roupas, telhas, objetos, através das emissoras de rádios, jornais locais e entidades. Militares do Exército ajudando retirar famílias e móveis. O assunto era a enchente quando Igor entrou na cidade com seu carro preto. Em pleno novembro de 2009. Todas cidades da região alagadas e com milhares de flagelados. As vizinhas cidades da Argentina e do Uruguai também com enchentes. Lavouras inundadas. Gado morrendo afogado. Telhados voando com ventos. Queda de energia. Computadores e máquinas queimando. Raios matando pessoas. Árvores caindo. E chuva caindo, caindo, por dias.
Igor estacionou na praça central. Café Brasil. O velho Café Brasil intacto. Sentou olhando as árvores da praça e o céu chumbo, e pediu um expresso. Com adoçante! Só depois iria ver os prejuizos que a família teve com esta enchente.
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