quinta-feira, 16 de outubro de 2014




DIVAGAÇÕES  NO VINHO  (Ao poeta Rubem Borges Fialho)


Acontece que não há silêncio
e nem escuridão suficiente
para meu apelo.
Meu âmago civilizado
enquanto ri, chora;
e o pensamento desatina
entre lucidez e desespero
enquanto o copo de vinho seca
novamente na minha frente.

Mais vinho. Eu preciso!
Preciso tanto como os homens
que me cercam e são assimiláveis,
 preciso tanto como os homens
que necessitam de coisas maravilhosas
e fúteis e corrosivas,
precisamos todos nós
(sem talismã ou com talismã)
de vinho.
Isso! Precisamos de vinho!

O caos que absorve nossa ótica
Não pode passar de um absurdo
Refletido na nossa realidade.

Os elos que tento manter
com a minha perseverança vital
aos poucos ficam estáticos.

Poesia!
Pensei que ela fosse chegar mais tarde.
Poesia e vinho.
Pensamentos flutuantes
na noite gigante.

Tento desligar a TV
tento catar o silêncio que me persegue
mas não me domina, o silêncio adorado,
e quando revejo fotos concluo:
a imortalidade está
em nossos exclusivos segredos!

Besta! eu diria.
Basta! alguém gritaria.
E enquanto o nada me devora  a paz
eu grito um grito mudo e ensurdecedor
apoteótico e sarcástico.
E enquanto o barulho do planeta
sufoca meus ouvidos e alma
eu gemo solitário
na beira do copo de vinho.

Ai ai ai ai ai ai ai ai ai ai ai ai
canta meu espírito divago
buscando a nudez total da vida.

Aiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiiii
canta minha ânsia partida.

Pobre do meu choro!
Nem mais sequer é aprisionado
como um bandido perigoso e orgulhoso.
É soluçante e saliente e sem nexo.
É simplesmente um choro, de homem.

Não!
Eu não quero que o vinho acabe
sem antes alterar sensações pelo qual
meu corpo anseia.
Não! Seria hipocrisia
de fim de dia tortuoso.
E bebo este vinho gostoso.

O voo de cada um de nós
precisa alcançar algo?
O voo alucinado do meu ser
necessita da compreensão absoluta?

Os deuses que nos cercam
e nos protegem ou nos dilaceram
são dignos da nossa fé?

O vazio não será a resposta buscada
Em anos e anos de sobrevivência?

Meu auto-interrogatório
Não será a máscara da demência?

Ah o vinho!
O vinho que parece acabar.
O vinho feito com esmero
e que no desespero da alguns dias
nos embriaga a alma ancorada.

O vinho seco ou  suave
ou branco ou tinto ou verde,
o vinho que seca nos copos
de  nossos bares e lares,

O vinho fresco
que nos arrebata em imagens e lembranças
e nos conduz a um sonho inocente
de novas esperanças...
E me adormece diante de enigmas
insurretos
insuperáveis.
  

POEMA DA DOR


A dor é o mais insuportável
sentimento humano.

Na dor física
todos se igualam
pobres e ricos
negros e brancos...

a dor física é cruel!
e não permite fingimentos.

A dor no braço, a dor no peito
a dor no ventre
a dor na boca, na cabeça
no ouvido, nas pernas...

Enfim toda a dor
insuportavelmente
castiga o homem..

Ah a dor da alma!...
Esta é controlável com ilusões
e nos faz até criar poemas e fábulas
e técnicas para fingirmos que não a sentimos.

Mas a dor física...
esta é real...

maltrata...

e mata.



NOITE FRIA DO PAMPA

           

Canta em mim uma alma
e eu pergunto
se há alma em mim
ou em alguém.

Canta algo
no vento que sopra
rente a meus ouvidos
e uivos me chegam
de longe
na noite fria do pampa
no brilho da lua gigante.

Ah, meu Deus Insuperável!
Meu Deus Indefinível!
Mostra-se pra mim
de qualquer forma,

Acorda minha fé
adormecida pelos séculos,

Transpõe a lógica
que me conduz
nestas noites frias
do pampa
que me pariu.

Faz frio!



O VELHO GRANDE DO SUL


O velho grande do sul
sangra de emoção
em seu galope silencioso
pelas coxilhas do pampa
-seu habitat natural e eterno-
enquanto o rosto rude
estampa a melancolia
dos homens solitários por natureza.

O velho grande do sul
sem muito sucesso na vida
vira sua página todos os dias
sendo protagonista
de sua história real
sem mística, sem mitos,
com ritos de um cotidiano
que se esvai ano a ano.

O velho grande do sul
resiste ao tempo
e serve de exemplo
para os jovens grandes do sul
que embriagam-se com a modernidade,

E calado
com olhos no horizonte
reflete a esperança
de novos dias melhores.




DOS AMIGOS QUE TIVE

No tempo
em que eu era ridículo
eu tive amigos
ridículos.

No tempo
em que eu era pobre
tive amigos e inimigos
na miséria.

No tempo em que tive
meus vícios
convivi com amigos
viciados, embriagados...
sem pudor e sem ética.

No tempo
em que eu era polêmico
tive amigos
problemáticos.

No tempo
em que eu era político
tive amigos
politizados.

No tempo
em que viajei pelo mundo
tive amigos viajantes
em terras interessantes.

No tempo
em que eu era
religioso
tive amigos de fé.

No tempo
em que eu era jogador
tive amigos
que faziam  jogadas da vida.

No tempo todo
da vida de poeta
eu tive amigos
poetas
e amei e amei
intensamente
meus supostos amores,

me apaixonei
visceralmente,
me doei nestas paixões
e fui feliz e infeliz
e gargalhei e chorei
mas fui amigo apaixonado
em todos os tempos alados.

No tempo
da minha vida,
a minha vida toda
amei
todos amigos
que tive.



HOMEM


Sou tão animal
quanto pareço.
Tenho pêlos
poros
sangue
sexo...
e seja feita
a minha vontade.

Sou tão alma
que transpareço.
Tenho fé
transcendentalismo
sonhos...
e seja feita
a Vossa vontade.

Meu corpo é finito
e limitado,
minha alma é mística
e eterna,
meu prazer alienado,
minha imaginação
voa... dúbia...

Meus músculos
células
tecidos
e órgãos
buscam compatibilidade
entre si,
meu espírito
busca harmonia.
E sou tão animal
quanto pareço
porém
tão alma
que transpareço.

Sou homem
sou terra
sou um pedaço de mundo.

Sou mulher
sou mar
sou um pedaço de vida.

Tão animal
quanto pareço
Tão alma
que transpareço
e tão insignificante
quanto ao cosmos.

Sou
multidão!!



HUMANIDADE

 

O Planeta envelhece

a cada segundo
a cada minuto
a cada hora
a cada dia que passa
a cada ano
a cada século
e a humanidade
amadurece.

Porém a violência
cresce
nas entranhas do homem
que perece
entre uma e outra guerra
na Terra.

Porque matar semelhantes?
Porque extinguir a vida alheia?
Porque se envolver com a maldade
na teia do crime?
Será por vaidade?
Será por ambição?
Será por sede interminável
de ter mais dinheiro e  poder?

O Planeta envelhece
a humanidade amadurece
Novas tecnologias surgem para o bem e o mal
A ciência avança para curar doenças
Porém  o homem animal
continua a matar
inocentes e desprotegidas
crianças.

 

 

 

O POVO


                       
O Povo da floresta
protesta!

O Povo do serrado
desesperado
reza!

O Povo urbano
cosmopolita
mundano
só vê a vida passar
ano a ano.

O Povo Brasileiro
inteiro
joga todas as esperanças
e desesperanças
nas urnas

e sonha

com fortunas.




POEMA DE INTERNET

Entro num chat ou no twitter ou facebook
e encontro minha parceria virtual.
Comentamos o mundo louco dos homens
as corrupções dos políticos
a violência das cidades
a luta no campo das ideias
a luta no campo por terras
comentamos sobre o amor
interligados por computador.

Vc também quer tc?
Naum interessa o papo?
Desaparece
pra nunca mais
ser conectado
na mesma sala
no mesmo provedor.

Vamos para os sites
viajar pelo mundo
de comunicação imediata
que arrebata a imaginação.

Bilhões de internautas
se cruzam
em apoteótica
alucinação.


AMAR                  

Amar é vital
para o ser humano.

É como a água, o ar,
o sono, o alimento...
a sombra... o sol...

Os revolucionários
os céticos
os radicais
os ateus
também amam
e se derretem de amor
por uma mulher amada,

pois quem não acredita
no amor
é porque não foi
devidamente
amado.


DESCULPE  MEU  EGOÍSMO!


Desculpe meu egoísmo
de só pensar na minha felicidade
no meu prazer, na minha alegria,
sem pensar se você estará feliz
e alegre ao meu lado,
sem pensar no seu prazer ou não
de estar comigo.

Desculpe o meu  egoísmo
de pensar o tempo todo em mim
pensando que estou o tempo todo
pensando em você!

Desculpe se exijo sua paixão
seu amor, sua dedicação
como se desse uma ordem
sem verificar seus sentimentos
suas necessidades, suas ânsias...
querendo lhe escravizar
neste meu
suposto amor.

Desculpe-me
por lhe causar
mais esta dor!                                              


RELAÇÕES PERIGOSAS

Os homens
já não amam como deveriam
as suas parceiras mulheres
porque estas também
já não amam como deveriam
seus parceiros chamados maridos
ou namorados.

Na relação dita amorosa
tudo está muito calculado,
poesia e economia
sobrevivem lado a lado.

Sentimento dissimulado
descrito em tela de computador
forja a idéia de um novo amor
que a qualquer momento é deletado.

Paixões virtuais ou efêmeras
encontros em festas e motéis
afloram beijos e sexo sem sentimentos
em descompromisso com o amor,
daí vem a dor invisível, a ansiedade
daí vem a angústia silenciosa
encobertas com os prazeres fugazes
com a rotina interminável da vida
onde os homens e mulheres
simulam a felicidade.


VAMPIRAS


As vampiras vagam pela noite
em busca de sangue de homens
que se apaixonem momentaneamente por elas.

Magrelas, cadelas, infelizes
trocam gargalhadas entre si.

Escutam músicas barulhentas
para não ouvirem o som do caos
que sai de suas entranhas obscuras.

Armam a armadilha do prazer
pintam o rosto e os cabelos
dançam sensualmente enlouquecidas
fumam, bebem, cheiram o pó do tédio
e pensam que são felizes.

Meras atrizes da volúpia
mas que deixam marcas
em suas vítimas.

REFLEXÕES DE UM SÁBADO SÓ


Nem tudo que parece
ser amor, é amor.
Penso que sei
mas nada sei, de amor.

Paixões desvairadas
desejos incontidos
são fragmentos
da loucura cotidiana.

O sorriso, o perfume
e o andar das mulheres
envenenam os pensamentos
dos homens e podem implodir a rotina
destas cidadezinhas ou metrópoles.

Não pensamos em amar
e verdadeiramente encontrar
e compreender o ser amado.

Somos exilados
das incertezas.



DISPLICÊNCIA


Tudo que penso é momento
momento de divagação
tudo que sinto é tormento
tormento da percepção.

Mundo... complexo abstrato
Vida... absurdo evolutivo
Morte... lucidez inconsciente
Amor... sexo iludido.

Tudo que penso é presente
Futuro é imaginação incerta
Passado é retornar o momento ausente.

Tudo que sinto e contemplo
Tudo que paira na mente...
Mero acaso displicente.


EU PENSO QUE EXISTO


Eu não existo.
Eu penso que existo
e fico imaginando
mil coisas para mim
que não existo.

Tento negar
esta existência
mas me reencontro
com meras carências mundanas
fraquezas espirituais
dores e ais
obsessões sexuais, musicais...
e digo, escrevo, repito
que não existo
sou fantasia de mim
eu
o poeta
insurgindo-me do nada
ao som de Bach
repassando as cenas do mar
das mulheres nuas e gentis
dos pais e irmãos rindo na ceia

eu criança humana
eu jovem bacana
eu homem responsável
eu velho esperando a morte chegar
eu sempre poeta
meditando
versando...
para descobrir
que não existo.

Insisto nisto!



TODOS OS DIAS


Eu mato todos os dias
a pessoa ruim que há em mim
e renasço melhor
mais puro, todos os dias.

Eu assassino todos os dias
meu egoísmo
meus desejos de ganância
minhas inconstâncias
com o punhal da purificação
e ressuscito para vida nova
valorizando o conceito do bem.

Daquilo que fui constituído
estirpe da minha alma
me suicido a cada segundo
para viver um novo mundo.

Me depuro
para ser
mais puro
todos os dias.